Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Os homens vertem sangue
por doença,
sangria
ou por punhal cravado,
rubra urgência
a estancar,
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.
Em nós
o sangue aflora
como fonte
no côncavo do corpo,
olho-d'água escarlate,
encharcado cetim
que escorre
em fio.
Nosso sangue se dá
de mão beijada.
Se entrega ao tempo
como chuva ou vento.
O sangue masculino
tinge as armas
e o mar.
Empapa o chão
dos campos de batalha,
respinga nas bandeiras,
mancha a história.
O nosso vai colhido
em brancos panos,
escorre sobre as coxas,
benze o leito.
Manso sangrar sem grito
que anuncia
a ciranda
da fêmea.
Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Pois há um sangue
que corre para a Morte.
E o nosso
que se entrega para a Lua.
3 comentários:
Gostei muito do texto da Marina Colasanti, inspirador e até consolador...Todavia, diferentemente da autora, não tenho essa visão romântica da menstruação...e acho que passaria bem melhor com a ausência desta.
Beijos enormes!
"Um dia encontrei alguém que falava como Marina... alguém diferente e com muita sabedoria... enfim... ser mulher é poder mestruar... gerar.. simplesmente ser... ser mulher!
Lindo o texto!
Bjos,
Karoll.
Gostei muito do texto. De fato um olhar diferenciado sobre a natureza feminina, absolutamente feminina. Mas os homens não vertem sangue somente na morte. Esquecendo um pouco o sangue que escorre, o homem também "dá seu sangue" quando acometido de insuperável encanto. E os fluídos de ambos passam a ser emblemáticos.
Postar um comentário