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Professora de Lingua Portuguesa e Literatura. Encantada e comprometida com a vida.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Minhas Músicas: Lô Borges

Os Girassóis
(Van Gogh)


Um Girassol da Cor de Seu Cabelo
(Márcio Borges e Lô Borges)

Vento solar e estrelas do mar
A terra azul da cor do seu vestido
Vento solar e estrelas do mar
Você ainda quer morar comigo

Se eu cantar não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?


Sol, girassol, vejo o vento solar
Você ainda quer morar comigo?
Vento solar e estrelas do mar
Um girassol da cor de seu cabelo


Se eu morrer não chore não
É só a lua
É seu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua
Como vai você?
Você vem
Ou será que é tarde demais?


Se eu cantar não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?
Você vem?
Ou será que é tarde demais?

Minhas Músicas: Oswaldo Montenegro

Bandolins
(Oswaldo Montenegro)

Como fosse um par que
Nessa valsa triste
Se desenvolvesse
Ao som dos Bandolins...
E como não?
E por que não dizer
Que o mundo respirava mais
Se ela apertava assim...
Seu colo como
Se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio
Se dançar assim
Ela teimou e enfrentou
O mundo
Se rodopiando ao som
Dos bandolins...

Como fosse um lar
Seu corpo a valsa triste
Iluminava e a noite
Caminhava assim
E como um par
O vento e a madrugada
Iluminavam a fada
Do meu botequim...
Valsando como valsa
Uma criança
Que entra na roda
A noite tá no fim
Ela valsando
Só na madrugada
Se julgando amada
Ao som dos bandolins.

Minhas Músicas: Chico Buarque


As Vitrines
(Chico Buarque)

Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não

Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir

Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar

Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão.


Minhas Músicas: Lenine


Persistência da Memória -1931
(Salvador Dali)


Dali pinta três relógios derretidos: um, que parece exausto, está pendurado no galho da Oliveira; outro está apoiado sobre um corpo amorfo; e outro desliza de uma parede rochosa para o chão. Os três relógios são acompanhados de um relógio duro e coberto de formigas. (...) O relógio duro é devorado como carniça. Cada relógio marca uma hora, como símbolo da relatividade do espaço e do tempo. Sobre um deles há uma mosca, talvez como lembrança de que o tempo voa.
Fonte: (Coleção Folha – Grandes Mestres da Pintura)

Paciência
(Lenine)


Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...


Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...


Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...


O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...


Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...


A vida não pára...
A vida é tão rara...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Meus Filmes: O Marido da Cabeleireira de Patrice Leconte

O Marido da Cabeleireira de Patrice Leconte

GÊNERO: Drama
Diretor: Patrice Leconte
Ano/Local: 1990 / França
Elenco: Jean Rochefort, Anna Galiena, Roland Bertin, Maurice Chevit, Philippe Clévenot, Jacques Mathou e Claude Aufaure.

Sinopse: Lembranças de infância, a descoberta da sexualidade, o amor, a velhice e a morte. Essa é a linha da vida e de temas abordados com lirismo e lubricidade no filme de Patrice Leconte, O Marido da Cabeleireira. Com uma estética que lembra os países árabes colonizados pelos franceses, no norte da África, Leconte conta uma história fantástica e sedutora, como a sensualidade dos argelinos ou dos marroquinos.
Sem apelar para o melodrama ou para o humor óbvio, Patrice Leconte transmite a sua mensagem com charme e perfeccionismo. Desde as tonalidades da fotografia, passando pela trilha sonora empolgante, até o interessante trabalho de montagem e a composição das personagens, o diretor em nada peca, apenas galga em cada cena a simpatia do público. A fluidez e o ritmo gostoso da narrativa também são responsáveis pelo fascínio causado pelo filme, que o mantém até o final imprevisível.
Misturando cenas do passado e presente do protagonista, O Marido da Cabeleireira revela o porquê do título. O protagonista é Antoine, um homem de meia-idade e de alma de criança cuja obsessão desde a infância por cabeleireiras o levou a casar com uma. Felicíssimo com sua vida amorosa e sexual, Antoine não passa do marido da cabeleireira e não tem qualquer pretensão de ser outra coisa, já que seu sonho de infância foi realizado. Engraçado que Antoine não tem emprego, responsabilidades, amigos, proximidade com a família ou outras relações sociais, e passa o dia inteiro no interior do salão, observando o corpo voluptuoso de sua amada esposa e as pitorescas histórias dos clientes. Entre um corte de cabelo e outro, Antoine e sua cabeleireira entregam-se ao prazer da carne e ao amor puro e descomplicado que nutrem um pelo outro. É uma vida conjugal perfeita, sem conflitos ou vaidades, repleta de romantismo. Mas como quase toda história de amor, a tragédia tem seu lugar, e Antoine saberá disso da maneira mais traumática.
Embora não seja um obra-prima, O Marido da Cabeleireira merece reconhecimento por se tratar de um filme francês que curiosamente foge do estilo hermético comum na cinematografia francesa e consegue um ótimo resultado. Isso porque Leconte brinca bastante, mas ao mesmo tempo fala de questões relevantes em relação ao amor, ao medo de envelhecer e à morte, sem perder de vista o devaneio e a frugalidade. Para quem acredita que o cinema europeu é feito apenas de choro e angústia, O Marido da Cabeleireira é prova cabal de sua imensa diversidade.

Meus Filmes: A Vida é Bela de Roberto Benigni

A Vida é Bela de Roberto Benigni

Gênero: Drama
Diretor: Roberto Benigni
Elenco: Roberto Benigni, Nicoletta Braschi, Giustino Durano, Sergio Bustric, Marisa Paredes.
Produção: Gianluigi Braschi, Elda Ferri
Roteiro: Roberto Benigni, Vincenzo Cerami
Fotografia: Tonino Delli Colli
Trilha Sonora : Nicola Piovani
Ano: 1997
País: Itália
Sinopse: Guido (Roberto Benigni) é um judeu que muda do campo para a cidade nos anos 30. Lá, conhece a encantadora professora Dora (Nicoletta Braschi), por quem se apaixona. Cinco anos mais tarde, eles estão casados e têm um filho, Josué (Giorgio Cantarini). Guido e sua família são capturados e ficam presos em um campo de concentração. Preocupado com seu filho, Guido tenta amenizar o sofrimento do menino, contando histórias. Para poupar seu filho das crueldades do nazismo, diz que estão participando de uma gincana para ganhar um tanque de guerra e devem passar por muitas privações para conseguir o prêmio. A Vida é Bela conseguiu sete indicações ao Oscar de 1998, vencendo nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Ator (Roberto Benigni) e Melhor Trilha Sonora.

Meus Filmes: Sonhos de Akira Kurosawa


Gênero: Drama
Ano de Lançamento (Japão): 1990
Direção: Akira Kurosawa
Roteiro: Akira Kurosawa
Produção: Mike Y. Inoue e Hisao Kurosawa
Música: Shinichirô Ikebe
Fotografia: Kazutami Hara, Takao Saitô e Masaharu Ueda
Sinopse: São oito segmentos. No primeiro, "A Raposa", uma criança é avisada pela mãe que não deveria ir à floresta quando há chuva e sol, pois é a época do acasalamento das raposas, que não gostam de serem observadas. Mas ele desobedece os conselhos e observa as raposas, atrás de uma árvore. Ao retornar para casa sua mãe não o deixa entrar e lhe entrega um punhal, dizendo que como ele havia contrariado a raposa ele deveria se matar, mas ela sugere algo que pode remediar a situação. Na segunda, "O Jardim dos Pessegueiros", o irmão mais novo de uma família, ao servir chá para as irmãs, depara com uma moça que foge. Indo ao seu encalço, nota que ela é uma boneca e depara com os pessegueiros da sua casa totalmente cortados, restando só tocos. Os espíritos dos pessegueiros surgem para ele e, em uma dança melancólica, dizem que as bonecas são colocadas para enfeitar e festejar a florada dos pessegueiros, mas como eles não mais existem naquela casa não fazia sentido a presença das bonecas. Na terceira, "A Nevasca", o líder de uma expedição, junto com seu grupo, se vê em meio a uma nevasca. Eles sucumbem a nevasca, mas repentinamente surge uma linda mulher que envolve o líder com uma echarpe prata. Ele percebe que ela é a morte, que se transforma em uma horrenda figura, então ele vê que está próximo do acampamento e tenta acordar os companheiros, mas não consegue. Ouve então uma corneta, indicando que o acampamento está mais próximo do que imagina. No quarto, "O Túnel", ao entrar em um túnel o capitão de um exército é surpreendido por um cão, que ladra para ele. Atravessa então o túnel em curtos passos. Na saída ouve alguém caminhar e depara com um dos seus soldados morto em combate, que pensa não estar morto. No quinto conto, "Corvos", um jovem pintor, ao observar as pinturas de Van Gogh, entra dentro dos quadros e se encontra com o pintor, que indaga por qual razão ele não está pintando se a paisagem é incrível, pois isto o motiva a pintar de forma frenética. No sexto conto, "Monte Fuji em Vermelho", o Fuji entra em erupção ao mesmo tempo ocorre um incêndio em uma usina nuclear, provocado por falha humana. É desprendida no ar uma nuvem de radiação. Um homem relata ser um dos responsáveis pela tragédia e diz preferir a morte rápida de um afogamento à lenta provocada pela radiação. No sétimo, "O Demônio Chorão", ao caminhar um viajante encontra um demônio, que lamenta ter sido um homem ganancioso e, como muitos, transformou a terra em um lastimável depósito de resíduos venenosos. No último, "Povoado dos Moinhos", um viajante chega à um lugarejo conhecido por muitos como Povoado dos Moinhos. Lá não há energia elétrica e tampouco urbanização. Um idoso, ao ser indagado, relata que os inventos tornam as pessoas infelizes e que o importante para se ter uma boa vida é ser puro e ter água limpa.
Fonte: AdoroCinema.com













Meus Livros: O Ensaio sobre a Cegueira

O Ensaio Sobre a Cegueira
(José Saramago)
Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas. O Ensaio sobre a cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti.Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

Meus Livros: Moderato Cantabile

Moderato Cantabile
(Marguerite Duras)
Num bar, um homem mata uma mulher.Mas este gesto só existe pelo fascínio que exerce noutro homem e noutra mulher que nem sequer o testemunharam directamente e cujo significado não alcançam senão talvez inventando-o através da estranha embriaguês que a partir de então se apodera deles. Arrancados por aquele grito de agonia à ordem quotidiana, a essa “vida tranquila” onde já não há lugar para a esperança, o homem e a mulher encontram-se dia após dia no bar onde tudo se passou. Falam, imaginam que essa mulher quis ser morta pelo homem que amava e o sentimento que nasce entre eles reencontra, assume esse desejo. Talvez venham a reviver a mesma história de morte e amor. Talvez... Mas nem mesmo o romancista tem a certeza.Quem pode dar um nome ao que se passou entre esses desconhecidos, ao que se passa agora entre Anne Desbaresdes e Chauvin? Quem pode saber a forma que o destino dará a essa cumplicidade indecifrável? Talvez nem tenham outra história do que a de ter, por um instante, trocado essas palavras, posto as mãos uma sobre a outra, encostado as suas bocas uma única vez. Tudo está suspenso na expectativa de um acontecimento que não chega, de um acontecimento inimaginável. Tudo se verga ao peso de uma paixão que não sai de si própria, que não sabe sequer o seu nome.

Meus Livros: Libertinagem

Libertinagem
(Manuel Bandeira)
Nesse seu primeiro livro inteiramente modernista, Manuel Bandeira revela-se seguro no domínio do verso livre e das demais inovações que a Geração de 22 adotou, inspiradas nas vanguardas européias.
Publicado em 1930, Libertinagem de Manuel Bandeira, é um livro de poemas que sintetiza todas as aspirações revolucionárias da fase heróica do modernismo brasileiro, a Geração de 22. A obra reúne 38 poemas (dois dos quais em francês), escritos entre 1924 e 1930. Em sua maioria, nota-se a intenção do poeta de cortar laços com as formas tradicionais, acadêmicas e passadistas. Por esse motivo, é considerado o livro mais vanguardista de Manuel Bandeira e o primeiro totalmente modernista. Nele, pode-se observar um poeta mais seguro em relação à própria liberdade de expressão proposta pelo modernismo.

“Poética”
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço [ao sr. diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de [cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

No poema "Libertinagem", valendo-se da metalinguagem, Bandeira prega uma arte universal que valoriza a expressão poética da palavra. Ao mesmo tempo, como bom modernista, recusa tanto a poesia burocrática, contida no plano formal e sentimental do parnasianismo, quanto a poesia demagógica e debilitada do romantismo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

"Eu Sou Uma Mulher" de Marina Colasanti



Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.

Os homens vertem sangue
por doença,
sangria
ou por punhal cravado,
rubra urgência
a estancar,
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.

Em nós
o sangue aflora
como fonte
no côncavo do corpo,
olho-d'água escarlate,
encharcado cetim
que escorre
em fio.

Nosso sangue se dá
de mão beijada.
Se entrega ao tempo
como chuva ou vento.

O sangue masculino
tinge as armas
e o mar.
Empapa o chão
dos campos de batalha,
respinga nas bandeiras,
mancha a história.

O nosso vai colhido
em brancos panos,
escorre sobre as coxas,
benze o leito.
Manso sangrar sem grito
que anuncia
a ciranda
da fêmea.

Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Pois há um sangue
que corre para a Morte.
E o nosso
que se entrega para a Lua.

Texto Sobre a Tela "Mona Lisa" (F.M.)


(Fernanda Moreira)

Monalisa assombrava meus sonhos de menina. O olhar que me perseguia, ora para um lado ora para outro, também seguia os passos de Scooby-Doo, Salsicha e sua turma em suas expedições por castelos mal assombrados. A delação das travessuras infantis viria dali, eu sabia, mesmo que não passasse de um quadro na parede. Era apenas um pintura, mas tinha vida própria, movimentos próprios, vontade própria. Tratava-se de uma implacável e perigosa espiã e eu estava sob sua mira.
Um rosto que se multiplica, faces que se revelam se abrindo a diversas interpretações: Monalisa de Da Vinci é Gioconda, é Madonna de Michelangelo, é Maria de Nazaré, Marylin Monroe de Hollywood, Evita de Perón, Isadora Duncan dos palcos, Olga da revolução, Diadorim de Guimarães Rosa, Capitu de Machado de Assis, Madre Teresa de Calcutá de Deus, Carmem de Bizet, Beatriz de Dante e tantas outras.
Assim diria Bento Santiago, o Dom Casmurro: Monalisa era Monalisa, “uma criatura mui singular, mais mulher do que eu era homem.” “Olhos de ressaca” “Cigana oblíqua e dissimulada”.
Para alguns, sua face revela uma expressão introspectiva, ligeiramente sorridente. Em italiano “gioconda” significa uma mulher alegre. Será mesmo? Para outros, seu sorriso é inocente e convidativo, triste e lascivo. O que estaria por trás desse dúbio sorriso? Segundo Dan Brown em seu best seller O Código da Vinci, Monalisa seria simplesmente o auto-retrato de seu pintor.
O poder e a altivez de Monalisa estão explícitos em sua postura. Uma mulher dominadora e controladora, capaz de manipular a todos porque é onipotente em seu pseudo estado de imobilização. A harmonia total entre a Natureza, no fundo da tela, e a Humanidade que ela representa a aproxima do divino. Daí, muitas vezes, a expressão calma e serena de seus traços. Por fim, tem em seus olhos o dom de prever o futuro tal qual um oráculo: “Decifra-me ou devoro-te”, eis o enigma que ela me propõe.

"A Moça Tecelã"

(Marina Colasanti)

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela. Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias. Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado. Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta. Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida. Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade. E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar. — Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer. Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. — Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata. Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira. Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre. — É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo. Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear. Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela. A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu. Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte. (Do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Global Editora, RJ, 2000)

Annabel Lee

Anjo Surrealista - 1969
Salvador Dali


Annabel Lee
(Edgar Alan Poe)
(Tradução de Fernando Pessoa)

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.

Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
A ambos nós invejar.

E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;

E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.

E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.

Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.

Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.


(Fonte Imagem: http://www.geocities.com/)

"Maria, Maria" de Milton Nascimento

Maria, Maria, é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta

Maria, maria, é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria, mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania de ter fé na vida

Alina Reyes

Retrato de Katharina Cornell - 1951
(Salvador Dali)


“Distante” de O Bestiário
(Júlio Cortazar)
(Fragmentos)

“... eu apago as luzes e as mãos, me dispo aos gritos do lufa-lufa diário, quero dormir e sou um horrível sino ressoando, uma onda (...) Tenho que repetir versos, ou o sistema de buscar palavras (...), ou os numerosos anagramas: Salvador Dali, Ávida Dollars; Aline Reyes, es la reina y. Tão belo este, porque abre um caminho porque conclui (...)
Não, horrível. Horrível porque abre caminho a esta que não é a rainha, e que outra vez odeio de noite. A essa que é Alina Reyes, não a rainha do anagrama; que será qualquer coisa, mendiga em budapeste, freqüentadora de prostíbulo em Jujuy ou criada em Quetzaltenango, em qualquer lugar distante e não rainha. Mas Alina Reyes, e, por isso, ontem de noite aconteceu outra vez, senti-la e o ódio. (...)
Ás vezes sei que tem frio, que sofre, que batem nela. Posso apenas odiá-la muito, detestar as mãos que a atiram ao solo e também a ela, a ela ainda mais porque batem nela, porque sou eu e batem nela.(...)
Ás vezes é ternura, uma súbita e necessária ternura para com aquela que não é rainha e anda por aí. Gostaria de lhe mandar um telegrama, lembranças, (...) necessita consolo, compaixão, caramelos.
(...) hão de me castigar lá, mas quem sabe se é um homem, uma mãe furiosa, uma solidão. Ir para me buscar (...) a uma ponte onde há neve e alguém. (...)
(...) É mais fácil sair a procurar esta ponte, sair a minha procura e me encontrar como agora, porque já andei a metade da ponte entre gritos e aplausos.
(...) Eu a encontrarei na ponte e nos olharemos. Na noite do concerto eu sentia nas orelhas a quebra do gelo ali embaixo. E será a vitória da rainha sobre essa aderência maligna, usurpação indevida e surda. Entregar-se-á se realmente sou eu, se somará à minha zona iluminada, mais bela e verdadeira: apenas por ir a seu lado e apoiar uma mão no seu ombro. (...)
(...) Alina Reyes chegou à ponte e a atravessou até a metade, andando agora com dificuldade porque a neve batia de frente (...) Sentia como a saia se grudasse nas coxas (...) e, de repente, um desejo de voltar (...) Na metade da ponte desolada (...) mulher de cabelo negro e lasso esperava com alguma coisa firme e ávida (...) mãos meio fechadas mas já se estendendo. (...) Sem temor, libertando-se afinal – acreditava-o com um sobressalto terrível de júbilo e frio – chegou junto a ela e estendeu também as mãos, se negando a pensar, e a mulher da ponte se apertou contra seu peito e as duas se abraçaram rígidas e caladas na ponte (...)
(...) Apertava a magríssima mulher sentindo-a inteira e absoluta dentro do seu abraço, com um crescer de felicidade igual a um hino, a um soltar de pombas, ao rio cantando. Fechou os olhos na fusão total, recusando as sensações de fora, a luz crepuscular; repentinamente tão cansada, mas certa de sua vitória, sem celebrá-la por tão seu e finalmente.
Pareceu-lhe, docemente, que uma das duas chorava. Devia ser ela porque sentiu molhadas as faces, e o próprio pômulo doendo como se tivesse ali levado um golpe. (...) Ao abrir os olhos (talvez gritasse agora) viu que se haviam separado. Agora, sim, gritou. De frio, porque a neve estava entrando por seus sapatos furados, porque andando a caminho da praça ia Alina Reyes lindíssima em seu vestido, o cabelo um pouco solto contra o vento, sem voltar o rosto e andando.”
(Fonte Imagem: http://www.geocities.com/)

O texto a seguir é uma contribuição da amiga Silvânia Silveira, companheira da árdua e fascinante jornada na área do ensino. Silvânia é também minha companheira no curso de Pós Graduação. Seu talento, querida , é indiscutível!!!

ALGUÉM MAIS DENTRO DE MIM.

Alguém dentro de mim sofre. Angustia-se! Preso, imanente, alguém mais dentro de mim quer se manifestar.
Por vezes, olho pelo espelho. Vejo outros olhos. Alguém chora, alguém ri. Alguém, não é um! Alguém chora, sofre, compadece (...) outro alguém, lá dentro, ri. Ou não? Alguém de dentro ou de fora que ri. Não sei! Quem?
Sei que tem outro alguém dentro de mim. Alguém com olhos mais claros. Dá-se a impressão pelo espelho (e isso me assusta!). Alguém de fora que chora e alguém de dentro sorri. De dentro ou de fora, sofre. Alguém sofre de angústia dentro de mim. Quem?
Não sei... Alguém dentro de mim... Se de dentro ou se é de fora, está preso, vejo pelo espelho! Dentro de mim tem outro alguém. E tem olhos mais claros! Preso em mim, chora. Alguém pelo espelho chora em mim. Quem?
Em dias sombrios, melancólicos, alguém quer morrer. Vejo pelo espelho. Alguém no espelho tem olhos mais claros. Sofre. Alguém de dentro se esconde. Ou não? Alguém de dentro esconde o de fora. Quem se esconde? Alguém? De dentro ou de fora? Quem?
Vejo mais alguém dentro de mim. Então não sou só um! Ou sou eu além de alguém? Há mais alguém dentro de mim. Quem?
Se não sou só, não sou única. Porque essa solidão? Mais alguém dentro de mim sofre. Solidão! Alguém dentro de mim... Minha gêmea! Isso deveria ser bom. Mas quem de mim será irmã? Quem?
Existe uma gêmea em mim. Mas não é igual. Diferente! Sim, esse outro alguém dentro de mim é diferente. Vejo seus olhos pelo espelho. Somos dois. Ou não?! Somos mais de um alguém... Gêmeos no olhar? Não, não! Esse outro alguém dentro de mim ri enquanto estou a chorar. Seus olhos brilham e são mais claros. Ou será ele a me sufocar? Quem?
Que bobagem! Não pode ser! Alguém dentro de mim não fala. Eu? Eu tenho tanto o que dizer! Ou não? Alguém, de dentro de mim, me domina? Não fala, mas sabe o que quer dizer. Alguém de fora ou de dentro que fala? Quem? Alguém de olhos mais claros diz de dentro de mim! O quê?
Alguém mais existe dentro de mim. Se forem dois, não é mais um. Dois de dentro ou de fora? Gêmea de dentro... Alma? Não, não são... Eu sei, alma é só uma! Mas procura companheira... Quem de dentro de mim quer ser a primeira? De dentro ou de fora? Quem quer ser agora?
Existe alguém dentro de mim. Existe alguém que vejo de fora. Vejo, quando olho pelo espelho. Alguém de olhos mais claros. Vejo que alguém chora. Não vejo quem sorri. Se ri ou se chora, não é meu irmão. Gêmeo em mim chora. Ou não? Não, esse outro alguém não chora, ri. Quem é agora?
Alguém dentro de mim sofre. Alguém que vejo preso pelo espelho. Tem olhos mais claros! Alguém dentro de mim não é irmão. Vejo alguém pelo espelho de fora... Com olhos claros... Sorrindo por dentro... Chorando por fora (...) Sei quem sou por ora!
(Silvânia Silveira - abril/2000)

Prevenção ao Uso Nocivo de Drogas

A influência das drogas sobre nossas crianças, adolescentes e jovens é ainda uma grande incógnita para os pais, familiares e professores que não conseguem entender a transformação que de hora para outra corrói toda e qualquer estrutura afetiva existente.
Qualquer pessoa pode ser vítima. As drogas não fazem distinção de sexo, cor, raça, posição social ou cultural. Consumi-las é uma atitude observada em qualquer tipo de comunidade, sejam ricas, pobres, cultas e menos alfabetizadas, jovens e adultos, homens e mulheres, em países ricos ou pobres.
De quem as experimenta não se sabe quem irá se tornar dependente ou não. É aí que reside o perigo.
O vício das drogas faz surgir no dependente atitudes e ações até então inimagináveis como a mentira, o roubo e o crime. É um caminho de espinhos para os pais e de uma realidade equivocada para o jovem, que de hora para outra enreda-se num mundo à parte e é absorvido como num turbilhão para novas “amizades”, estilos e hábitos diferentes.
As conseqüências são desastrosas e nunca se sabe a que ponto poderá chegar. Invariavelmente ocasionam vários distúrbios, levando inclusive à morte.
Prevenir é o melhor caminho, pois fortalece as relações saudáveis e dá oportunidade de uma vida digna. O ideal é cultivar atitudes de prevenção. Todos sabemos quão difíceis são os tratamentos, que em 70% dos casos não apresentam sucesso, pois a doença já se instalou, sem contar os preços exorbitantes de clínicas particulares e a f alta crônica de vagas em hospitais públicos.
A orientação aos filhos e aos seus amigos é imprescindível, aliada ao bom senso, muito amor, compreensão e entendimento.
Todos os setores da sociedade, discutindo as drogas e seus malefícios, assim como a forma de combatê-la podem formar um escudo contra os traficantes e a ação de passadores. Devemos orientar as crianças a cultivar a saúde, com a firme decisão em dizerem não às drogas.
(Revista Reviver)


Todos devem estar unidos no combate às drogas.

“Tecendo a Manhã”
(João Cabral de Melo Neto)


Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.


E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Ser Um Agente Multiplicador ou Educador

O Efeito Devastador do Crack
Uma dependente em crack se deteriorando à medida que o vício se agrava.


Estamos no século XXI e fazer prevenção em qualquer área torna-se necessário para melhorar a qualidade de vida de todos.
A abordagem e desenvolvimento da prevenção ao uso de drogas requer do agente multiplicador ou educador uma postura segura e arrojada para atingir os objetivos da prevenção primária.
A prevenção com as crianças, adolescentes e jovens deve começar antes de uma eventual experimentação nociva de drogas.
Estabelecer confiança é um pré-requisito indispensável para toda educação preventiva. Deve-se transmitir valores de responsabilidade pessoal, capacitação para autonomia e opções acertadas, levando sempre em conta a integração social.
Prevenir no sentido de propiciar amplos conhecimentos sobre a espiritualidade, o homem e a sociedade bem como sobre agressões modernas que ocorrem contra uma vida saudável.
Despertar a criatividade, a fantasia, os talentos, a emotividade e os conhecimentos em cada faixa etária, desenvolvendo ao longo do tempo uma mentalidade preventiva.
Pode-se dizer que o segredo da pedagogia preventiva do agente multiplicador reside em: Manifestações de amor. “Presença, exemplo e carinho são fundamentais.”
A pergunta que se faz é: A droga é o problema? Não! A droga sempre existiu e muitas delas nos beneficiam, melhorando nossa qualidade de vida.
A história da bela adormecida é um bom exemplo, onde a roca não era o problema, e sim a curiosidade e falta de informação da princesa. Por isso, todo trabalho preventivo deve estar focado na VIDA e em tudo o que diz respeito ao seu humano.
A melhor maneira de começar uma ação preventiva é pela Auto-Estima, completando-se o trabalho com as informações adequadas sobre o uso nocivo das drogas.

(Revista Reviver)

Telefones Úteis

DIPE (Divisão de Prevenção e Educação):
Encaminhamento: 11 30944653 11 30944693
Cursos e Palestras: 11 30944647 11 30944691

Projeto Alicerce – Assessoria e Consultoria
(Equipe especializada em prevenção às drogas nas escolas, empresas, ...)
Para maiores informações: 11 2734186 ou 11 83359771
E-mail: aleavilez@ig.com.br
Site: www.revistareviver.com.br

Equilíbrio Psicológico (F.M.)

Por Marcelo Gabriades e Celso Lopes de Souza do Ensino Anglo de Ensino

“O medo é uma pressa que vem de todos os lados, uma pressa sem caminho”
(Guimarães Rosa – Sagarana)

O que você entende por “equilíbrio psicológico”? Alguém “é”equilibrado, ou “está” equilibrado? Qual dos dois verbos seria mais preciso nesse contexto?
O verbo estar nos parece mais apropriado. O equilíbrio psicológico é um processo dinâmico, e não estático. Estamos o tempo todo em busca do equilíbrio. Nesse sentido, os desequilíbrios são absolutamente normais e não devemos temê-los, mas sim achar formas de voltar ao ponto de equilíbrio.
Por exemplo, quando você se pré-ocupa com um pensamento do tipo “acho que não vai dar para alcançar a minha meta”, e não consegue mais se concentrar, você começa a “balançar na corda bamba” do equilíbrio psicológico. O instante presente parece ceder lugar exclusivo àquele pensamento destrutivo.(Trecho adaptado pela autora do Blog)
Fazendo uma metáfora, o equilibrista experiente não arrisca outro passo nessas situações, pois sabe que agindo assim haverá grandes chances de cair. Não recomendamos correr, quando se está com pressa. Pois a pressão, sintoma da “pressa que vem de todos os lados”, dificulta bastante a escolha do caminho a seguir. (...) O verbo “focar” anuncia os pensamentos compensadores que reavaliam o contexto e constroem uma visão menos catastrófica, mais nítida e clara do momento presente. Assim, situações aparentemente sem saída podem ser plenamente manejáveis.


O Grito de Edvard Munch


Análise da Tela “O Grito” de Munch
(Fernanda Moreira)


“O medo é um sentimento que paralisa. O período de imobilidade e tensão é caracterizado pelo aumento de atenção e de vigilância e pela redução da freqüência de batimentos cardíacos, como se o observador se sentisse diante de um perigo iminente.” (Eliane Volchan – UFRJ)
A tela “O Grito” de Munch remete seu apreciador à sensação de medo e angústia absolutos. O sentimento de impotência diante da dependência química, da guerra, da destruição, de uma ameaça, ou de uma catástrofe provocada pelas forças da natureza é retratado com excelência pelo pintor.
O grito que se projeta no infinito não encontra respostas. Diante do caos nada a fazer. As cores escolhidas – o laranja avermelhado quente – sugere o fogo que reduz tudo a cinzas e a um profundo vazio existencial. O azul, uma cor fria, deixa claro que angústia e a dor do grito estão presentes não só no personagem, mas no espaço em que ele está inserido. A paisagem ainda nos sugere as ondas sonoras provocadas pelo grito, única manifestação do horror experimentado pelo personagem. Ondas que poderiam ser também radioativas, no caso de uma conflito nuclear. A dor, que no seu limite absoluto beira a loucura, faz com que se veja o mundo torto, disforme e em desequilíbrio.
Uma figura andrógina e atemporal universaliza “O Grito”. Embora a tela tenha sido pintada em 1893, e seu pano de fundo seja a doca de Oslfjord em Oslo ao pôr-do-sol, podemos contextualizá-la em pleno século XXI e utilizá-la para ilustrar o desespero e a falta de perspectiva dos jovens dominados pelo uso abusivo de drogas.

Adicto e Comunidade Terapêutica (F.M.)

(Fernanda Moreira)

Quem é um Adicto?
Um adicto é simplesmente um homem ou uma mulher cuja vida é controlada pelas drogas. Para um adicto, toda a sua vida e os seus pensamentos estão centrados em drogas, de uma forma ou de outra – obtendo, usando e encontrando maneiras e meios de conseguir mais. O adicto vive para usar e usa para viver. Ele lamenta o passado, teme o futuro e não sente entusiasmo pelo presente.
A adicção é uma doença que envolve mais do que o uso de drogas. Trata-se de um comportamento autodestrutivo. Um aspecto da doença é a total incapacidade de lidar com a vida como ela é. As funções mentais e emocionais mais elevadas, como a consciência e a capacidade de amar são fortemente afetadas pela doença. A vida espiritual é arruinada e o adicto reduz-se ao nível animal.
A doença é incurável, progressiva e fatal, mas, assim com outras doenças incuráveis, a adicção pode ser detida. Não tem qualquer importância imediata saber como uma pessoa contraiu a doença. O que interessa, de fato, é a recuperação.
(Texto baseado na Leitura do Capítulo Um – "Quem é um adicto?" do livro Narcóticos Anônimos)

“Mesmo com a doença manifestada, o dependente químico conserva todas as capacidades e possibilidades de resgatar a autonomia individual, a capacidade de escolher e decidir. (...)
É um ser humano confuso e ferido. Está fazendo mal a si mesmo e, neste momento, é incapaz de se defender. Por isso necessita de uma ajuda externa que o acompanhe em uma nova direção e o sustente com amor e profissionalismo. (...)
Enfim, é uma pessoa capaz de renascer e reprojetar a própria vida em direção à autonomia e liberdade, através de um relacionamento intenso, da sua criatividade, de novas relações familiares, de sua presença ativa e dinâmica no seu grupo social.”
(Doutora Laura Fracasso – Drogas e Álcool, Prevenção e Tratamento)

O que é uma Comunidade Terapêutica?
(Fernanda Moreira)

Instalada a dependência, o indivíduo precisará ser atendido por um programa de recuperação que o sensibilize a parar de usar, que melhor atenda suas necessidades e a de sua família, que o prepare para a reinserção social e prevenção à recaída.
Quando uma pessoa se reconhece um adicto e consegue admitir sua doença, depara-se com o seguinte dilema: ou entregar-se definitivamente às drogas ou buscar a recuperação.
Uma das saídas para esse problema está nas Comunidades Terapêuticas, que se espalham pelo país e que são regidas pelo código de ética da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas - FEBRACT
A Comunidade Terapêutica que trabalha com dependentes químicos é definida da seguinte forma:
“Ambiente residencial protegido, técnica e eticamente orientado, cujo principal instrumento terapêutico é a convivência entre os pares. Seu objetivo é recuperar os internos resgatando sua cidadania, buscando sua reabilitação física, psicológica e espiritual, e a reinserção social. Nela deve haver uma participação ativa dos internos na própria terapia e, dentro de limites, no gerenciamento da comunidade.”

São algumas de suas características:
- A aceitação voluntária do programa.
- A intensa e constante comunicação entre todos os membros.
- A atuação dentro de um sistema de pressões artificialmente provocadas, que estimula a explicitação da patologia do residente diante de seus pares.
- a coesão interna sustentada por um sentimento de solidariedade fraterna e pela aceitação de valores morais.
- Não às drogas, aos contatos sexuais e à violência.

Do ponto de vista cultural, o fenômeno moderno da C.T. está inserido na proposta da filosofia existencial que deu vida à escola da psicologia Humanista.

O Programa de Tratamento de uma Comunidade Terapêutica costuma estar embasado em:
1. Espiritualidade
2. Laborterapia
3. Terapia de apoio (Grupo de Doze Passos, Prevenção à Recaída, Grupo de sentimentos, Atendimento psicológico individual e familiar...)

Para maiores informações a respeito de Comunidades Terapêuticas:
http://www.febract.org.br/ (Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas)
http://www.padreharoldo.org.br/ (Instituição Padre Haroldo)

Por que um Sarau ? (F.M.)


(Fernanda Moreira)

Por que um Sarau no contexto de uma comunidade Terapêutica?

A idéia de organizar um sarau no ambiente de uma Comunidade Terapêutica surgiu quando, lendo o jornal, deparei-me com uma matéria que noticiava uma melhora no quadro clínico de pacientes depressivos em tratamento, que eram submetidos a um projeto terapêutico ligado a leitura de poesia. A iniciativa desse projeto surgiu na Suiça e, devido a seus resultados significativos, já vinha sendo utilizada por alguns psiquiatras alemães.
Conhecendo um pouco da realidade das Comunidades Terapêuticas e da rica diversidade cultural de seus residentes, percebi, na condição de voluntária em uma dessas instituições, a possibilidade de desenvolver um projeto ligado à poesia, mas que se estendesse também às outras expressões artísticas.

Algumas pessoas dominam ativamente os códigos artísticos e conseguem conceber, criar a obra de arte. Outras, apesar de não serem criadoras, interagem com ela por meio de sua apreciação, descobrindo-lhes novas dimensões e sentidos. O olhar subjetivo de cada ser recebe e decodifica de maneira diferente um mesmo dado. Isso significa que existe o que é próprio do objeto em si, mas o olhar que o percebe está comprometido com a vivência, a sensibilidade, a emoção, e o modo de ser do observador. Isso relativiza as coisas, e abre inúmeras possibilidades de interpretação da criação artística.

Literatura e Prevenção: Textos (F.M.)

Sugestões de Textos Literários a serem abordados em uma Comunidade Terapêutica no sentido de promover a reflexão do interno a respeito de seu passado, presente e futuro.
(Fernanda Moreira)

Textos que abordam a Adicção Ativa:

Versos Íntimos
(Augusto dos Anjos)

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Dispersão
(Mário de Sá Carneiro)

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto
E hoje quando me sinto
É com saudades de mim.

O Bicho
(Manuel Bandeira)


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.



José
(Carlos Drummond de Andrade)


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?


No Meio do Caminho
(Carlos Drummond de Andrade)


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.



Essa Noite Não
Composição: Lobão / Bernardo Vilhena /
Ivo Meirelles / Daniele Daumérie
A cidade enlouquece sonhos tortos
Na verdade nada é o que parece ser
As pessoas enlouquecem calmamente
Viciosamente, sem prazer
A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente Indefinível
Mas não tente se matar Pelo menos essa noite não
As cortinas transparentes não revelam
O que é solitude, o que é solidão
Um desejo violento bate sem querer
Pânico, vertigem, obsessão
A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não
Tá sozinha, tá sem onda, tá com medo
Seus fantasmas, seu enredo, seu destino
Toda noite uma imagem diferente
Consciente, inconsciente, desatino
A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não

Poema em Linha Reta
(Fernando pessoa)


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem
Pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos os Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confessasse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Teatro Dos Vampiro
(Renato Russo)


Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto
Nesses dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos

Esse é o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
A primeira vez
Sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos

Vamos sair
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão
Procurando emprego
Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas
Vamos lá tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer desta noite
Ter um lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
Esperamos que um dia nossas vidas possam se encontrar

Quando me vi tendo de viver
Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir
Vamos sair
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão
Procurando emprego
Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas
Vamos lá tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer desta noite
Ter um lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim
Não tenho pena de ninguém.

Literatura e Prevenção: Textos (F.M.)

Sugestões de textos Literários a serem abordados em uma Comunidade Terapêutica, no sentido de promover a reflexão do interno a respeito de seu passado, presente e futuro.
(Fernanda Moreira)

Textos que abordam a Recuperação:

Madrigal Melancólico
(Manuel Bandeira)


O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento.
Graça que perturba e que satisfaz.
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida



A Criança Nova Que Habita Onde Vivo
(Fernando Pessoa – Alberto Caeiro)

A criança nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.


O Que é, o Que é? (Gonzaguinha)

Eu fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida! É bonita e é bonita!
Viver e não ter a vergonha de ser feliz,
Cantar, e cantar, e cantar,
A beleza de ser um eterno aprendiz.
Ah, meu Deus! Eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será,
Mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita!
E a vida? E a vida o que é, diga lá, meu irmão?
Ela é a batida de um coração?
Ela é uma doce ilusão?
Mas e a vida? Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é, meu irmão?
Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo,
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo,
Há quem fale que é um divino mistério profundo,
É o sopro do criador numa atitude repleta de amor.
Você diz que é luta e prazer,
Ele diz que a vida é viver,
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é, e o verbo é sofrer.
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé,
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser,
Sempre desejada por mais que esteja errada,
Ninguém quer a morte, só saúde e sorte,
E a pergunta roda, e a cabeça agita.
Fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida! É bonita e é bonita!
É a vida! É bonita e é bonita!


Mais Uma Vez
( Renato Russo, Flavio Venturini)

Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei...
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem...
Tem gente que está
Do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar...
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está
Mas eu sei que um dia
A gente aprende
Se você quiser alguém
Em quem confiar
Confie em si mesmo...

Quem acredita
Sempre alcança...
Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei...
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem...
Nunca deixe que lhe digam:
Que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos
Nunca vão dar certo
Ou que você nunca
Vai ser alguém...
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia
A gente aprende
Se você quiser alguém
Em quem confiar
Confie em si mesmo!...
Quem acreditaSempre alcança...


Amigo
(Roberto Carlos)


Você meu amigo de fé, meu irmão camarada
Amigo de tantos caminhos e tantas jornadas
Cabeça de homem mas o coração de menino
Aquele que está do meu lado em qualquer caminhada

Me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro
Você tantas vezes provou que é um grande guerreiro
O seu coração é uma casa de portas abertas
Amigo você é o mais certo das horas incertas

Às vezes em certos momentos difíceis da vida
Em que precisamos de alguém pra ajudar na saída
A sua palavra de força, de fé e de carinho
Me dá a certeza de que eu nunca estive sozinho

Você meu amigo de fé, meu irmão camarada
Sorriso e abraço festivo da minha chegada
Você que me diz as verdades com frases abertas
Amigo você é o mais certo das horas incertas

Não preciso nem dizer
Tudo isso que eu lhe digo
Mas é muito bom saber
Que você é meu amigo

Não preciso nem dizer
Tudo isso que eu lhe digo
Mas é muito bom saber
Que eu tenho um grande amigo


Lanterna dos afogados
(Herbert Vianna)


Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar

Eu estou na lanterna
Dos afogados
Eu estou te esperando
Vê se não vai demorar

Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar

Eu tô na lanterna
Dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar .

Tente Outra Vez (Raul Seixas)

Veja!
Não diga que a canção
Está perdida
Tenha em fé em Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez!...

Beba!
Pois a água viva
Ainda tá na fonte
Você tem dois pés
Para cruzar a ponte
Nada acabou!

Tente!
Levante sua mão sedenta
E recomece a andar
Não pense
Que a cabeça agüenta
Se você parar
Há uma voz que canta
Uma voz que dança
Uma voz que gira
Bailando no ar

Queira!
Basta ser sincero
E desejar profundo
Você será capaz
De sacudir o mundo
Vai!Tente outra vez!

Tente!
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que se vive a vida
Tente outra vez!...


Quem sabe isso quer dizer amor
(Márcio Borges/Lô Borges)

Cheguei a tempo de te ver acordar.
Eu vim correndo, a frente do sol.
Abri a porta e antes de entrar,
Revi a vida inteira.
Pensei em tudo que é possível falar,
Que sirva apenas para nós dois:
Sinais de bem, desejos vitais,
Pequenos fragmentos de luz.
Falar da cor dos temporais,
De céu azul, das flores de abril.
Pensar além do bem e do mal,
Lembrar de coisas que ninguém viu.

O mundo lá sempre a rodar,
Em cima dele tudo vale.
Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer o sonho acontecer.

Pensei no tempo e era tempo demais.
Você olhou sorrindo para mim,
Me acenou um beijo de paz.
Virou minha cabeça.
Eu simplesmente não consigo parar.
Lá fora o dia já clareou,
Mas se você quiser transformar
O ribeirão em braço de mar,
Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser,
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você.

O mundo lá, sempre a rodar,
Em cima dele tudo vale.
Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer o sonho acontecer.



Amanhã(Guilherme Arantes)

Amanhã será um lindo dia,
Da mais louca alegria
Que se possa imaginar.

Amanhã, redobrada a força,
Pra cima que não cessa,
Há de vingar.

Amanhã, mais nenhum mistério,
Acima do ilusório,
O astro rei vai brilhar.

Amanhã, a luminosidade,
Alheia a qualquer vontade,
Há de imperar.

Amanhã está toda a esperança,
Por menor que pareça
O que existe é pra vicejar.

Amanhã, apesar de hoje,
Será a estrada que surge,
Pra de se trilhar.

Amanhã, mesmo que uns não queiram,
Será de outros que esperam
Ver o dia raiar.

Amanhã, ódios aplacados,
Temores abrandados,
Será pleno, será pleno.

domingo, 14 de setembro de 2008

"A Casa de Cera" (Karolline Kawahara)



A Casa de Cera
(Karolline Kawahara)


Era uma residência bem colorida, familiar, no subúrbio da capital paulista. Um lar com um belo jardim florido, vista da sacada do quarto, onde o berço ainda rangia... Recinto bem freqüentado por admiradores de artes... Na varanda, a galeria, chamava atenção dos cobiçadores de arte pop... Marilyn estava linda ao lado do seu rádio, degustando uma coca-cola... Todos os compartimentos estavam lotados... As pessoas andavam nos arredores e sentiam a presença de espectros... Quadros pintado a dedo fazia parte da exposição do ninho materno de alguém que morrera de infarto naquela habitação... Alguém querido, de boa índole e provavelmente generoso, pois as pessoas que ali estavam, depositavam valores generosos nas urnas de arrecadação para os descendentes que ali sobreviviam à custa daquela generosidade... Havia pessoas de diversas províncias do país a fim de adquirir um pouco de cultura diferente, já que o lugar propiciava... Ah, que maravilha poder admirar o feio e enxergar o belo... A rua virara um enorme estacionamento... Os carros já ocupavam as travessas... A cultura ganhou espaço naquela casa de cera... O imóvel em frente ao parque, tornara-se conhecido ao servir de estalagem artística, cujo endereço já não era necessário mencionar, mas apenas o nome “A Casa de Cera”, lugar criado no espaço da minha mente... um lugar onde somente eu conheço...

Contribuição da amiga Karoll, estrela rara!! Companheira no Curso de Pós Graduação.
Obrigada pelo presente!!!

Tecnologia e Ensino (Fernanda Moreira)


Cada vez mais os meios de comunicação apontam para a necessidade do mundo digital estar voltado para a produção e aquisição do conhecimento, e para a criação artístico cultural do homem contemporâneo.

Foto: Fernanda Moreira
Legenda: Fernanda Moreira

Infinito (Fernanda Moreira)


A tecnologia liga o homem a toda as partes do mundo redimensionando-o ao infinito.

Foto: Fernanda Moreira
Legenda: Fernanda Moreira

No reino das palavras (Fernanda Moreira)

Procura da Poesia
(Carlos Drummond de Andrade)

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.(...)

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada umatem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Foto: Fernanda Moreira
Texto: Carlos Drummond de Andrade

Alguém mais dentro de mim (Silvânia Silveira)

ALGUÉM MAIS DENTRO DE MIM

Alguém dentro de mim sofre. Angustia-se! Preso, imanente, alguém mais dentro de mim quer se manifestar.Por vezes, olho pelo espelho. Vejo outros olhos. Alguém chora, alguém ri. Alguém, não é um! Alguém chora, sofre, compadece (...) outro alguém, lá dentro, ri. Ou não? Alguém de dentro ou de fora que ri. Não sei! Quem?Sei que tem outro alguém dentro de mim. Alguém com olhos mais claros. Dá-se a impressão pelo espelho (e isso me assusta!). Alguém de fora que chora e alguém de dentro sorri. De dentro ou de fora, sofre. Alguém sofre de angústia dentro de mim. Quem?Não sei... Alguém dentro de mim... Se de dentro ou se é de fora, está preso, vejo pelo espelho! Dentro de mim tem outro alguém. E tem olhos mais claros! Preso em mim, chora. Alguém pelo espelho chora em mim. Quem?Em dias sombrios, melancólicos, alguém quer morrer. Vejo pelo espelho. Alguém no espelho tem olhos mais claros. Sofre. Alguém de dentro se esconde. Ou não? Alguém de dentro esconde o de fora. Quem se esconde? Alguém? De dentro ou de fora? Quem?Vejo mais alguém dentro de mim. Então não sou só um! Ou sou eu além de alguém? Há mais alguém dentro de mim. Quem?Se não sou só, não sou única. Porque essa solidão? Mais alguém dentro de mim sofre. Solidão! Alguém dentro de mim... Minha gêmea! Isso deveria ser bom. Mas quem de mim será irmã? Quem?Existe uma gêmea em mim. Mas não é igual. Diferente! Sim, esse outro alguém dentro de mim é diferente. Vejo seus olhos pelo espelho. Somos dois. Ou não?! Somos mais de um alguém... Gêmeos no olhar? Não, não! Esse outro alguém dentro de mim ri enquanto estou a chorar. Seus olhos brilham e são mais claros. Ou será ele a me sufocar? Quem?Que bobagem! Não pode ser! Alguém dentro de mim não fala. Eu? Eu tenho tanto o que dizer! Ou não? Alguém, de dentro de mim, me domina? Não fala, mas sabe o que quer dizer. Alguém de fora ou de dentro que fala? Quem? Alguém de olhos mais claros diz de dentro de mim! O quê?Alguém mais existe dentro de mim. Se forem dois, não é mais um. Dois de dentro ou de fora? Gêmea de dentro... Alma? Não, não são... Eu sei, alma é só uma! Mas procura companheira... Quem de dentro de mim quer ser a primeira? De dentro ou de fora? Quem quer ser agora?Existe alguém dentro de mim. Existe alguém que vejo de fora. Vejo, quando olho pelo espelho. Alguém de olhos mais claros. Vejo que alguém chora. Não vejo quem sorri. Se ri ou se chora, não é meu irmão. Gêmeo em mim chora. Ou não? Não, esse outro alguém não chora, ri. Quem é agora?Alguém dentro de mim sofre. Alguém que vejo preso pelo espelho. Tem olhos mais claros! Alguém dentro de mim não é irmão. Vejo alguém pelo espelho de fora... Com olhos claros... Sorrindo por dentro... Chorando por fora (...) Sei quem sou por ora!
(Silvânia Silveira - abril/2000)

Esse texto aparece em dois momentos de meu blog. Ele pode ser encontrado também na postagem "Alina Reyes" já que é um espelho do texto de Júlio
Cortázar. Não pude deixar de criar uma outra postagem em homenagem a minha amiga e grande escritora por essa bela e delicada contribuição à literatura nacional.

sábado, 13 de setembro de 2008

Visita à Exposição "Emoção art.ficial 4.0" (F.M.)

Bachelor - The Dual Body (Coréia -2003)
(Ki Bong Rhee)

Um Mergulho Sinestésico:
As Tecnologias como Ferramenta a Serviço do Labor Criativo
(Fernanda Moreira)


Escrever sobre a cibercultura e a arte cibernética não me parece uma tarefa simples, principalmente para leigos como eu, que acabo de inaugurar minha cidadania planetária, ou seja, minha ciberexistência. Estou tentando ingressar em um novo mundo – desconhecido e virtual – o que se torna cada vez mais imprescindível a minha interação com o mundo real, e a minha atuação como educadora. Mas aceito o desafio e movida por heróica coragem, arriscarei algumas palavras.
Minha visita à Exposição Emoção art.ficial 4.0 – Emergência! do Espaço Itaú Cultural, no último sábado, suscitou a seguinte reflexão a cerca da produção artística contemporânea: O que o jovem moderno entende por arte, e qual a relação que ele estabelece entre a arte e o mundo virtual criado pela tecnologia?
Motivar os alunos a visitar exposições como essa é uma forma de orientá-los no sentido de entender a tecnologia digital não só como um meio de comunicação nas relações sociais, mas também como uma possibilidade de criação artística e aquisição de conhecimento.
Uma das instalações que mais chamou a minha atenção na exposição liga-se à produção literária. A autora da instalação “Reler”, Raquel Kogan (Brasil – 2008), cria um ambiente desprovido de iluminação, com algumas caixas acústicas conectadas a um computador e uma prateleira montada em uma das paredes, onde encontramos a nossa disposição livros (representados por caixas de madeira) que, ao serem abertos, acessam o arquivo desse computador que executa a obra literária programada para cada um dos volumes. O visitante, na entrada da instalação, encontra uma tela com um arquivo que o orienta na escolha da obra literária. A leitura das obras literárias foi gravada por ilustres representantes do nosso cenário cultural. Dessa forma, a interação do visitante com a literatura passa a ser sonora, e a escuridão do espaço permite uma viagem no espaço e no tempo que o induz a devaneios inimagináveis. Nada como ouvir um texto impregnado da interpretação e emoção de quem sabe apreciar o belo e transformá-lo em algo inédito.
O conceito de “continuum”, que tem origem na teoria da relatividade de Einstein, evidencia-se em todas as instalações da exposição. Ele se realiza no momento em que a criação é atemporalizada e desterritorializada, existindo apenas no presente, e sendo impregnada pelas impressões do tempo e do espaço do visitante, que se transforma em verdadeiro co-autor da obra. Alíás, essa é uma das propostas da 4ª Edição da Bienal Internacional de Arte e Tecnologia: expandir “os conceitos tradicionais de criação e autoria.”
A exposição nos proporciona um mergulho sinestésico em um mundo que funde o real e o virtual – tecnologias, palavras, cores, imagens, sons, texturas... a serviço da emoção e da sensibilidade. A instalação “Bachelor – The Dual Body” de Ki Bong Rhee (Coréia 2003) representa a realização concreta desse mergulho que envolve arte e tecnologia em harmonia absoluta: um livro submerso na água faz delicados movimentos, sem afundar nem emergir. Enfim, a visita à exposição nos faz lembrar, principalmente, a necessidade de ter olhos em uma sociedade que parece enxergar cada vez menos.

Fonte Imagem: www.mais.uol.com.br

sexta-feira, 12 de setembro de 2008